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domingo, 29 de maio de 2016

Sem título

Prenderam-me o coração
numa gaiola de
ossos, e carne, e pele
Tinham medo que ele voasse
                                                       livre
e nunca mais voltasse
Mas ele acaba sempre por voltar:
ou por mais comida, ou por mais água, ou por mais amor
Às vezes de asas partidas.
É o preço da
                      liberdade

PedRodrigues

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Por vezes

Por vezes os amores
viram músicas, e as músicas
são amores que cantamos
E ao longe os amores
não são músicas, são
somente as lágrimas que choramos.
Por vezes os amores
viram noite, e a noite são amores
que embalamos
E ao longe os amores
não são noite, são somente as estrelas que contamos.
E por vezes os amores são doces,
na vida amarga que levamos
E por vezes, às vezes, só às vezes, os amores são o travo da boca que beijamos.

PedRodrigues

terça-feira, 17 de maio de 2016

Cartas de amor

Nem todas as cartas chegam ao destino. Há as que se perdem pelo caminho. E com elas as palavras que ficam por dizer. O perfume suave de algum lugar onde gostaríamos de estar, a tinta seca de outras luas registadas a azul no papel. Só o que amamos nos deixa saudade. E a saudade é uma carta. Há quem não a receba, e ache que o amor se perdeu pelo caminho. Não. Perderam-se as palavras, mas tu não. Perdeu-se o papel, mas tu não. Perdeu-se a lua, mas tu não. Mesmo que em todas as cartas te perca, em todos os lugares te encontro. Tu estás onde sempre estiveste: à beira deste nosso abismo, meu amor.
 
PedRodrigues

domingo, 8 de maio de 2016

A Coimbra, depois do adeus


A saudade é um espaço
que tentamos preencher
com as memórias
dos rostos, das conversas,
das noites, das tardes,
do sol, do Mondego,
dos copos entornados,
dos amigos que se afastam
devido às circunstâncias
da vida
Ficam esses momentos
em que o choro das guitarras
nos fazia chorar também
Em que as aulas nos aborreciam
em conjunto, e fazíamos juras
de estudar para passar
noites, e noites, e noites 
a fio.
Noutros tempos usámos
o negro como uma cor alegre,
apesar das lágrimas dos últimos
abraços junto às escadas da velha 
sé. Noutros tempos usámos
cartola, mas não éramos 
mágicos - se fôssemos,
pararíamos aí o relógio.
Noutros tempos fomos uma cidade
e todas as suas pedras, e as suas 
estátuas, e a sua história e a sua 
universidade.
Noutros tempos fomos Coimbra,
hoje somos saudade. 



PedRodrigues